terça-feira, 16 de setembro de 2008

Instituição Graça Rios


Biblioteca Comunitária Graça Rios- uma verdadeira central de solidariedade


Uma das poucas semelhanças que a Biblioteca Comunitária Graça Rios (localizada no bairro Paquetá, em Belo Horizonte, Minas Gerais ) com outras bibliotecas são os livros e os muitos usuários. Agora vêm as diferenças: em qual biblioteca é servido almoço para os leitores e os não leitores? Em qual biblioteca fazem-se doações de 50 cestas básicas ( todo mês ) para os mais necessitados, nos bairros próximos a ela? E m qual biblioteca é direcionada uma equipe todos os sábados para as portas de hospitais para alimentar quem necessita de alimento? Enfim, a Biblioteca Comunitária Graça Rios é diferenciada, é especial. Vai alem do empréstimo domiciliar de livros. Quem chega a essa biblioteca é tomado por um sentimento contagiante de boa vontade e solidariedade.
Tudo começou em 1989, no bairro São Francisco, quando Vanilda de Jesus Pereira resolveu criar uma creche, junto com outras mães, para que as crianças da região não fossem atropeladas em uma em uma via de transito rápido e perigoso.
Na creche, apesar das dificuldades, e sem apoio, as guerreiras continuavam ate q um AVC ( acidente vascular cerebral ) quase pôs fim à vida de Vanilda, foi uma época de turbulência e de dificuldades.
Quando Vanilda finalmente se recuperou, ela se viu em uma situação de risco social. Foi para nas ruas catando papel para sobreviver e, então, uma enciclopédia encontrada na rua foi à possibilidade de outros horizontes para ela e para aqueles que estavam em seu redor. As crianças da região então começaram a dizer em alto e bom tom: “na casa de Tia Vanilda tem uma biblioteca”. Foi a deixa para que começasse ali, em seu barracão de um cômodo um protótipo de biblioteca.
Após constatar que uma criança cochilava ao manusear um livro Vanilda questionou o porquê desse cansaço, a criança alegou que era fome: foi assim que a Biblioteca Comunitária Graça Rios começou a oferecer almoço aos leitores e necessitados da região. Quando em um desses dias sobrou alguma comida ela e mais alguns voluntários tiveram a idéia de fazer algumas quentinhas e levar para a porta de hospitais ( um centro de pronto atendimento e um centro de pediatria ). Foi então que eles constataram a necessidade que passam diversas pessoa em frente aos hospitais e a partir daí, impreterivelmente todos os sábados são levadas essa quentinhas para distribuição gratuita, desde 1992 ate os dias de hoje, a idealizadora e os voluntários se encarregam dessa empreitada.
Depois da enciclopédia mais livros foram chegando a seu barracão no aglomerado do Bairro São Francisco em Belo Horizonte, na ocasião chegaram a juntar 2000 livros e a lista de voluntários não parava de crescer. Neste momento a biblioteca necessitava de um nome. Surgiu então o nome de Maria Graça Rios, escritora, radicada em Belo Horizonte, que contribuía de forma efetiva e afetiva com o projeto. Graça Rios é Mestre em Literatura pela UFMG ( Universidade Federal de Minas Gerais ) e foi um nome de consenso entre as pessoas envolvidas no projeto e ate hoje é uma dos inúmeros voluntários que rezavam para o bom andamento da biblioteca.
Uma desapropriação em 2005 fez outra mudança nos rumos da Biblioteca Comunitária. Para uma duplicação de uma grande Avenida de Belo Horizonte varias famílias foram indenizadas para deixar suas casa e entre elas estava Vanilda e a biblioteca. Com o dinheiro da prefeitura Vanilda não conseguiu adquirir uma casa pronta, então ela comprou um lote no bairro Paquetá também em Belo Horizonte e se mudou para uma casa de aluguel em outro bairro ( Céu Azul ) e começou a construção de sua casa.
Quando finalmente conseguiu mudar para o Paquetá, com a casa ainda por terminar, mas com uma estrutura (são 98 metros quadrados construídos, dois banheiros) ela deixou uma semente no Céu Azul: nasceu uma biblioteca graças a alguns livros que Vanilda deixou com uma moradora que queria montar uma biblioteca no bairro.
No bairro Paquetá os voluntários começaram a aproveitar a estrutura: alem do empréstimo de livros, café, almoço e quentinhas a biblioteca faz mais: oferece atendimento medico todo final de semana em parceria com o Posto- Médico. Um pediatra e um clinico geral atendem as pessoas. As receitas são enviadas com o carimbo da Biblioteca e trocadas nos posto médico para sua avaliação e assim as pessoas podem ainda conseguir os remédios no próprio posto.
Outras ações da Biblioteca Comunitária Graça Rios são: a alfabetização ( à noite alfabetização de adultos ), o reforço escolar, a evangelização e ainda apresentações teatrais. Há ainda a presença de advogados para esclarecer os interessados, principalmente em questões trabalhistas.
Uma atividade muito concorrida na biblioteca são as aulas de informática. São apenas três computadores que funcionam e cada interessado fica uma hora à frente do micro para dar oportunidade a um numero mais de pessoas.
Outra atividade são as palestras. As ultimas foram com o dentista que discorreu sobre a importância da higiene bucal e como fazê-la e um ginecologista que falou sobre prevenção de doenças e controle de natalidade.
Com o numero crescente de livros a Biblioteca Comunitária Graça Rios também contribui para criação de novos espaços: alem do já citado bairro Céu Azul, já foram livros para as cidades mineiras de São Joaquim de Bicas, Capelinha, São João Del Rey. Sete Lagoas, Capim Branco, Confins, Matosinhos e outros dois bairros de Belo Horizonte.
Mesmos abastecendo esses novos espaços, na Biblioteca Comunitária Graça Rios livros não faltam: são ao todo 22.000 (vinte e dois mil) separados por assunto, mas ainda não estão catalogados. O numero de livros foi possível calcular, pois a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) enviou uma de suas bibliotecárias para lá para contabilizar os livros. Em um trabalho árduo, em uma semana ela contou todos os livros, porem não deu conta de catalogá-los.
O empréstimo era anotado, porem de um tempo para cá, sobrava pouco tempo para essas burocracias, pois Vanilda cuida de idosos e trabalha à noite. Uma cena freqüente é quando um leitor vai devolver os livros e ela percebia que o livro não foi anotado, logo ela achou q não valia a pena anotar: “vai na confiança mesmo”. E assim é feito: os livros são emprestados sem nenhum tipo de burocracia. A quantidade que cada leitor pode pegar emprestado e variável: um leitor nonagenário vai a biblioteca de mês em mês e pega 15 livros por vez, ele diz que nessa idade é um dos poucos prazeres que ainda lhe resta.
O ponto alto da biblioteca é o Natal. Não para comemorar o aniversario da idealizadora da biblioteca (ela nasceu 25 de dezembro) e sim para celebrarem o próximo e a vida. No último natal foram distribuídas cerca de duas mil quentinhas e cada uma com um presentinho (roupa, sabonete, alguma coisa de utilidade), fora, distribuídos oitocentas cestas básicas e cinco mil brinquedos.
Das setecentas cartas recebidas para serem apadrinhadas, somente cinqüenta não foram atendidas. Os maiores aglomerados de Belo Horizonte foram contemplados com o Bispo Mauro, no bairro São Geraldo, a Mãe dos Pobres, no Céu Azul, a Vila Del Rey no São Francisco e ainda a Favela dos Coxos na cidade de Pedro Leopoldo, alem do aglomerado próximo a biblioteca. Somente nessa comunidade mais de quatrocentas famílias foram atendidas.
Não há como medir a importância da Biblioteca Comunitária Graça Rios. Ela funciona como uma central de solidariedade, que recebe de quem tem mais e repassa para os mais necessitados. Os números são os menos importantes quando se nota a alegria no rosto de cada membro de uma família atendida.
Sem apoio governamental e sem se importar com isso a Biblioteca Comunitária Graça Rios é um exemplo de que vontade, superação e desprendimento fazem a diferença. São elementos fundamentais para elevar um projeto e fazer dele uma oportunidade para todos.

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